“Sou o Espírito da treva, a Noite me traz e leva; moro à beira irreal da Vida…”.
Eu sou o mais tenebroso de todos os Vampiros.
Não sinto gozo somente perfurando sensíveis membranas de jugulares virginais para sentir o sabor de hemoglobina. Embora algum débil tenha afirmado que “a alma da carne esteja no sangue”, e que sangue é vida, no meu entendimento psicossomático, vejo a manifestação da alma na mente, e ela é minha!
Não preciso sujar minhas presas, nem beber sangue, para sugar a seiva anímica de alguém.
Para manter a minha eternidade, Eu sugo almas, esta é uma forma mais refinada de alimentação.
Meu prazer consiste em devorar os centros; intelectual, motor, instintivo, emocional e sexual de cada ser humano. Invado as profundezas de cada vítima, em busca da pedra oculta.
Ao drenar estes centros, tenho o poder de criar ilusões, manipular, ler pensamentos…
Tenho visão telepática, e utilizo a arte psicomântica e o poder de cura, e de destruição para o meu benefício.
Como os outros Vampiros, sou capaz de me transformar em qualquer espécie de animal: morcego, lobo, cão, pássaro… Bem como em criaturas estranhas e imaginárias.
Intimamente, sou o Leão que ruge, procurando a quem devorar. No entanto, prefiro me transformar num homem comum, ou no líder religioso, no político eloqüente, ou nas letras escritas por um ávido Escritor.
A cruz, A Bíblia e o alho não me afugentam. Pelo contrário, bebo água benta para aliviar minhas ressacas, e nas procissões Eu sou o Luciferário.
Sou um manipulador da fé, pois dessa forma consigo atrair mais vítimas. Monto belíssimas igrejas e ofereço conforto espiritual e material em programas de televisão, tudo em nome de Deus.
Nenhuma Lei dita sagrada é verdadeira para mim; nenhum dogma consegue deter minha voz.
“Eu deixo para trás todas as normas que não levam ao meu sucesso e alegria terrenos. Eu me ergo impassível comandando a invasão da lei do mais forte!
Eu olho dentro dos olhos vítreos do seu terrível Deus e o agarro pelas barbas; eu ergo um machado e então racho seu crânio devorado por vermes!
Eu me liberto do sepulcro formado por conteúdos doentes de filosofias vãs e gargalho com um sarcasmo cheio de ira”.
Gosto de me aproximar, de abraçar, de apertar as mãos de minhas vítimas. Para inflar o meu peito em ardente escárnio.
Sejam eleitores imbecis ou fiéis idiotas, sempre os trato com o carinho de uma mãe para com o seu filho único, antes de devorá-los.
Proporciono à minha vítima escolhida, imagens de paz e amor, bondade, prazer e luxúria. De acordo com o temperamento, proporciono as imagens que ela sempre gostaria de ver, e faço-a sonhar. E abraço-a como um amante.
Então, começo a sugá-la, não sugo muito, pois a vítima pode ficar muito debilitada. Ou até morrer, o que não é o meu objetivo, pois preciso de escravos para o meu séquito.
Quando encontro alguém que me agrada, procuro olhar fixamente nos seus olhos. Penetro vorazmente no fundo de seu inconsciente.
Ao dormir, ela passa a ter sonhos gozosos, que permanecem por alguns dias, até que cedo ou tarde, ela me convida para a sua cama.
Então, ofereço-lhe alegrias inimagináveis, paz indescritível, êxtase… A cada gemido de prazer e dor, me sinto mais forte. Esta é a minha forma preferida de exaurir.
Sem energia, sem vontade, a vida torna-se um fardo. A depressão tornar-se constante companheira. E tudo parece dar errado, quando Eu não estou presente.
Os familiares e amigos são abandonados, largados ao mofo. Os pesadelos tornam-se freqüentes. Nada neste mundo parece real.
A percepção fica alterada, e seus valores invertidos.
“As poderosas vozes da minha vingança arruinarão a calmaria do ar e se manterão como monólitos de fúria mortal sobre um solo de serpentes retorcidas. Eu me torno uma monstruosa máquina de aniquilação para aqueles fragmentos ulcerosos do corpo daquele que tentou deter-me”.***
Desejo apenas que se multiplique a dor causada pela minha crueldade.
E o sono, o sono…
O belo artifício da morte começa envolver como um cobertor numa noite fria.
Então, continuará pensando que sou coisa da imaginação humana.
E como se Eu me sentisse vivo novamente, Continuarei existindo.
Na busca do amor…
Que procuro, mas não tenho por quem chorar.
Nem com quem sorrir…
O beijo…
E o corpo que por alguns instantes me fez se sentir vivo…
Não mais…
E já que não posso amar…
Agradeço por ter me convidado a entrar em sua mente.
E ter aberto a sua alma para que Eu pudesse penetrá-la devagar.
Daqui por diante, você carregará também esta lúgubre maldição.
E “Viverá! Viverá doravante sobre esta estranha ponte, que começa onde acaba a vida e termina onde começa a morte”.
Pois mesmo quando Eu, quebrando a roda do Samsara, e definitivamente adentrar no fundo do abismo do espaço, sempre estarei em você, e naqueles que lerem ou ouvirem as minhas insalubres palavras.