Cícero: – É surpreendente, meu “velho”, o que acabas de elucidar sobre a Quimbanda. Não te interrompi uma vez, dado o excepcional interesse com que te ouvia, nessas discriminações. Além de ter notado que as oferendas diferem
bastante das usuais ou dos “despachos ou ebós” tão falados, tenho ainda a perguntar por que, nas características de cada exu-guardião, frisas que ele não recebe essas oferendas ou qualquer outra, nas encruzilhadas de ruas?
Preto-velho: – Este “preto-véio” vai responder: – essas encruzilhadas de ruas, além de serem impróprias para qualquer operação positiva, dado que a maioria das pessoas que as encontram olham para essas coisas com vibrações negativas de toda sorte, assim como desprezo, deboches, medo, aversões, etc., e muitas mesmo as pisam, outras tiram materiais, etc. Com isso, estão, naturalmente, quebrando o encanto que porventura pudesse existir nelas.
Por outro lado, não podem servir para as operações necessárias e positivas com os exus, porque essas encruzilhadas de rua são mais “moradia” ou “habitat” dos espíritos classificados ou conhecidos com os “rabos de encruza” e de toda sorte de espíritos vadios, almas penadas ou aflitas de toda espécie de que vivem indo sempre na lábia desses quiumbas velhacos e trapalhões, que procuram envolvê-los de todas as maneiras e para todos os fins…
De forma que um desses tais “despachos ou ebós”, ali postos se torna um perigo, mais para os que botam, porque, via de regra, não obedecem à direção de um Exu e muito menos de um caboclo ou preto-velho, etc. Esses filhos que despacham nas encruzilhadas de ruas não sabem que estão alimentando essas classes de espíritos, que imediatamente os cercam, envolvem, etc., para não perderem mais o fornecimento das coisas de que eles gostam. Em realidade, eles passam mais a atuar nos que botam os “despachos”, do que naqueles para quem, eventualmente, são dirigidos. Então, pobres desses filhos que vivem alimentando 117 as “encruzilhadas” de rua…
Por que, oh! “zi-cerô”, é preciso que se diga: – esses quiumbas – espíritos viciados – não largam suas presas facilmente. Não querem perder a fonte de seus gozos, prazeres e sensações várias. Como entender isso diretamente? Vou dar-te um exemplo: – um indivíduo é viciado num entorpecente qualquer e um outro – aquele que fornece – é a fonte, em torno da qual ele gira constantemente, atrás de satisfazer o seu vício. No dia em que essa fonte não fornecer, ele se desespera e se tona capaz de tudo… até de matar. Isso está em relação com o caso dos aparelhos dominados por esses quiumbas… e com os que botam “despachos” nas encruzilhadas de rua.
“Zi-cerô”. Quem gosta mesmo de pipoca, farofa, dendê, fita preta e amarela, sangue, carnes diversas e outras coisas mais, não é propriamente o Exu guardião… Quem “come” ou quem faz tudo para se saciar nas encarnações desses “despachos” são os espíritos do “reino da quimbanda”. “Cicero” … quem “baixa” dando gargalhadas histéricas, grosseiras, fazendo contorções tremendas, jogando o aparelho de joelhos, com o tórax para trás, cheio de esgares e mãos tortas de forma espetacular, dizendo nomes feios e imorais, etc., não são os Exus de lei – os batizados, os cabeças de legião! São os velhacos Quiumbas, que, nessa altura, já envolveram o infeliz médium que, por certo, criou condições para que eles entrassem na sua faixa neuropsíquico mediúnica. Já estão “amarrados” nas garras deles… Como vai ser difícil a libertação…
Extraído do Livro “Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de Um Preto-Velho” de W.W da Matta.
Paz Profunda
Neófito da Luz .’.