Saudações irmãos de senda.
Aqui é mais um post desse cara ranzinza, mas de bom coração, o neófito.
Vamos falar um pouco desse movimento de malandragem dentro da Umbanda, do qual eu era TOTALMENTE CARREGADO DE PRECONCEITO, como nasci em um bairro muito ruim, que você tinha duas opções: Estudava ou ia pra onda do crime, onde preferi estudar, por estar no meio da malandragem, de muita gente metida a esperta, aprendi a repudiar veementemente esse tipo de pessoa e quando fiquei sabendo desse mesmo movimento na Umbanda, TRIPUDIEI, mas como sempre digo, eles sabem nos convencer quando querem e tentei dar uma chance a essa linha e me surpreendi.
Recorri aos estudos da Antropologia, do Movimento e de alguns conselhos dos meus próprios mentores.
HISTÓRIA DA MALANDRAGEM
Podemos definir a malandragem com um arsenal de formas de tirar vantagem sobre alguma coisa, é a artimanha, no popular, o famoso xaveco obtermos vantagens e saídas de alguma enrascada. Me deparei que precisamos lidar com isso durante o dia, é inevitável termos que executar com sutileza, destreza e inteligência tudo na vida, seja a “média” com o chefe, com a namorada, a malandragem está mais presente em nossas vidas do que eu gostaria de assumir. Obviamente existem diversas classes de malandragem, estou tentando falar da mais sutil possível, o arquétipo do malandro é aquele muito utilizado pela Lei de Gerson, é aquela lei que diz: “Levar vantagem em tudo!”.
O Brasileiro é malandro por si só, um adágio muito conhecido que pode substituir a Lei de Gerson, é o famoso Jeitinho Brasileiro comumente utilizada quando precisamos contornar alguma situação ou superar alguma burocracia de nosso cotidiano. Também conhecido como “Dar o Migue”.
A malandragem nasceu com o objetivo de contrair a justiça individual contra a camada opressora e até burguesa. É uma forma de tirar vantagem a partir das inúmeras desvantagens que temos, seja classe social, intelectual ou até mesmo a aparência, a malandragem é contornar alguma deficiência substituindo por algo que possuímos proficiência. É um movimento não somente brasileiro, como mundial, no famoso conto de “Mil e Uma Noites” nos deparamos com Aladim, um jovem árabe, vadio, arruaceiro que se metia nas altas confusões (como dizia SBT), conseguiu se apoderar da lâmpada mágica ficando rico da noite pro dia e ainda conquistar a princesa Jasmine. Existem mais alguns dos quais podemos recordar, como o Manda-Chuva, aquele gato que vivia na rua de Nova York, podemos lembrar de Gastão, um personagem da Walt Disney que vivia através da sorte e dos jogos, o próprio Zé Carioca que vivia através da malandragem e pequenas artimanhas para poder viver.
Como podemos observar, é um movimento que vai muito além do Brasil, a malandragem é mundial e teve como intuito, a fuga peranta as camadas opressoras e de pequenas anarquias que visavam protestar o sistema da sociedade.
Podemos saber muito sobre a malandragem através das músicas de Bezerra da Silva, com isso, existia o seu grande Adágio: “Malandro é Malandro e Mané é Mané”
MODO DE VIDA DO MALANDRO – ESCOLHA OU NECESSIDADE?
Muitas vezes, a malandragem é um ato de revolta contra as autoridades sociais, contra o sistema que sabemos ser falho, os malandros optam por quebrar o modo de vida falho do sistema que somos inseridos e vivem da forma mais hedonista possível, ou seja, visando o prazer acima de tudo. O Hedonismo é um movimento que foca em viver a vida da forma mais prazerosa possível, o hedonismo é um movimento grego, idealizado pro Aristipo de Cirene em 420 a.c. Justamente por não se preocuparem com o status quo muitas vezes e sim com uma forma prazerosa de vida, arraigada de mulheres, musicas, bebidas, a boemia em si, tão taxados como vadios e vagabundos. É um movimento muito comum em seres menos favorecidos, o que causa simpatia por muitos outros nas mesmas condições.
Desde a idade média, o malandro sabia usar a lábia e a esperteza para tirar proveito dos mais favorecidos, como mesmo disse, malandragem é um movimento que visava a justiça individual. Importante salientar que muitos malandros possuíam excelente coração, como podemos presenciar no personagem Zé Carioca, importante salientar também que muitos ciganos também tinha que saber viver da malandragem como forma de sustento, portanto, vendo o outro lado da moeda, criei muita empatia por esse movimento e não julguei apenas por um ponto de vista e pela limitada visão que eu tinha. Os próprios negros do Bronx, que eram o estereótipo do malandro estadunidense. Eram conhecedores das manhas das ruas, usavam ternos quadriculados, chapéus de abas largas e ajudavam muito a sua sociedade com pequenos delitos.
Podemos perceber que muitos desfavorecidos e que são arquétipos da umbanda hoje, possuem histórias parecidas, os quilombolas, os cangaceiros, muitos ciganos, baianos, entre outras linhas.
Também vale ressaltar que nem todos trazem o arquétipo do malandro da lapa, também existia a malandragem nordestina, que dançavam muito xaxado, gostavam de jogos e bebiam muita água de coco com bebidas alcoólicas, por muitos eram gente à toa e para outros, grandes revolucionários. Podemos destacar como arquétipos de malandros nordestinos, o próprio Chicó e João Grilo, personagens principais do Auto da Compadecida de Suassuna.
MALANDROS NA UMBANDA
Como já sabemos um pouco sobre o que é o movimento da malandragem, e podemos perceber que ele é muito mais comum em nosso cotidiano do que imaginamos, a Umbanda novamente, em teu seio de sabedoria materna trouxe mais um arquétipo para que tivesse o objetivo de nos ajudar e driblar as dificuldades da vida, nada melhor do que um arquétipo eficiente para isso, mais adequado com o nosso cotidiano, podemos perceber que os caboclos trazem a sabedoria do guerreiro, do conhecimento, da cura, enquanto os preto-velhos, além da sabedoria de vida, da experiência de diversas situações, nos ensinam as mirongas, as crianças, trazendo-nos a alegria e a pureza, então estava faltando alguém aí pra nos ensinar elementos do cotidiano muito presentes em nosso dia-a-dia, trazendo conosco o arquétipo dos malandros.
Como disse na linha de Piratas, se formos perceber, essa linha já agia em segredo há muito tempo, com a chegada do Zé Pelintra na linha de baianos muito comum nos cultos no Sudeste, originalmente, sendo um mestre da Jurema, em segredo a espiritualidade já trazia um espírito que carregava esse arquétipo e silenciosamente já trabalhava um culto determinado a essa linha, a linha dos malandros, assim como eu acho que vem acontecendo com outras linhas dentro do panteão Umbandistas.
Impossível falar sobre os malandros na Umbanda sem citar o emblemático Zé Pelintra, que no meu caso, só costuma vir na esquerda, diferente de outros que vem como baiano. Comecei a trabalhar há muito pouco tempo com malandros e em minha linha, se apresentou um tal de Malunguinho, que eu não fazia ideia de quem era, até conhece-lo através do culto ao catimbó, ele é muito mais conhecido como mestre juremeiros a malandro, mas chegou em minha linha trazendo uma malandragem diferente da estereotipada do carioca da lapa, e sim um malandro nordestino, mais exatamente baiano. Malungo é uma gíria utilizada na escravidão que significava companheiro, um termo comumente utilizado entre os malandros e fiquei muito feliz em saber que existiam pequenas histórias sobre essa entidade chamada Malunguinho, que pode vir também como exú, o que tem muito a ver com o arquétipo do malandro, porque muitos deles também atuam na esquerda.
OS malandros vem para trazer a alegria, nos ensinar a arte de driblar os problemas da vida, nos ensina que por mais que uma situação nos pareça desfavorável, com inteligência e sutileza podemos sair dessa situação. Eu mesmo confundia demasiadamente malandros com marginais, e através de poucos relatos dos meus mentores, um pouco de pesquisa e acompanhamento do Sr. Malunguinho em seu trabalho, percebi o meu equívoco e coincidentemente li um post e um irmão com o Nick feeyama me disse isso, que eu não tenho problemas em voltar atrás de minhas certezas e esse post sobre malandros seria a minha “libertação”.
Os malandros vem nos ensinar a fazer uma boa limonada mesmo com os limões azedos, nos ensinar a contornar os problemas comuns em nossa sociedade, e que o movimento da malandragem, do jeitinho brasileiro é muito mais presente e comum do que imaginamos. É um movimento que nos ajuda a corrigir os equívocos da Lei, do sistema social, eles vem com o objetivo de nos fazer enfrentar as dificuldades da vida com esperteza e sutileza, nos ensinam sempre brincando e trazendo muitas analogias de nosso cotidiano.
Indubitavelmente é uma linha que veio pra acrescentar e auxiliar de forma rápida, objetiva e compreensível aos dias de hoje, como lidarmos com nossas dificuldades e problemas. Trazem um arquétipo mais moderno de resolução de questões e justamente por isso, está muito presente em muitas casas de Umbanda.
E como disse, nem todos seguem o esteriótipo do malandro da Lapa, o que eu sirvo mesmo, é o Malunguinho e tem trejeitos totalmente nordestinos.
Salve a Malandragem.
Paz e Luz.
Neófito da Luz .’.
Referências: Wikipedia