Falar em qualidades de Xangô implica falar sobre a dinastia Ifé/Oyó. Ou seja, Cada “passagem” do orixá na transição do poder da cidade de Oyó, onde ele foi o quarto governante, desde sua partida de Ifé, terra de Oxalufã, até seu apogeu no trono de Oyó, terra de seu pai Oraniã. Sendo assim, vale ressaltar que estamos falando não apenas do Orixá Xangô, mas, bem como, toda sua família que, aqui no Brasil, são cultuados como qualidades deste orixá. Portanto, antes de cada qualidade, iremos, sempre, sobrepor a palavra irorubá Obá, que significa Rei.
Qualidades:
Obá Afonjá –
Afonjá, o Bale (governante) da cidade de Ìlorin. Era o ARE-ONA-KAKA-N-FO, ou seja, líder do exército providencial do império. Afonjá é o Xangô da casa real de Oyó. Nesse avatar, é aquele que está sempre em disputa com Ogum. Ora o amor da mãe, Iyemanjá, Ora, disputando os romances por Oyá e Oxum.
É o patrono de um dos terreiros mais antigos do Brasil, o Ilê Axé Opô Afonjá – Assim, contam os mais antigos, que este seria, miticamente, o primeiro Orixá a ser cultuado em nosso país.
Afonjá é jovem, porém maduro. Sábio, feiticeiro, de espírito libertino, galante, obstinado. Muito orgulhoso, jamais perdoa um inimigo, tornando-se violento. Adora um peleja.
Alafim – É o dono do palácio real de Oyó. É Jovem, guerreiro, ligado à Oxaguian. Veste-se de Branco com detalhes vermelhos.
Obá Kossô – Jovem, nesse momento, Xangô casa-se com Òbá e funda a cidade de Kossô, nos arredores de Oyó. Tornando-se o Rei de Kossô. Veste-se de vermelho e branco. Chamado, erroneamente, aqui no Brasil, de Obô Kossô, este perde esse título para Ayrá. (ver postagens de Ayrá).
Obá Lubê – Neste momento, Xangô destrona seu irmão Dadá-Ajaká e assume o reino de Oyó – Neste caminho, Xangô consolida a “trigamia” com Oyá, Òbá e Oxum. Portanto tem fundamento com as três orixás; veste-se de vermelho e branco.
Obá Irù ou Barù – É o apogeu do império de Xangô, em Oyó. Nesse momento ele cria o culto à Egungun ( ou sociedade Egungun), afim de, exaltar seus ancestrais e afugentar os espíritos dos mortos, já que este orixá possui aversão à morte. É o senhor absoluto dos raios, trovões e do fogo em todas as suas formas. É nesse caminho, que Xangô acaba por destruir a capital do reino, em crise de cólera, depois, arrependido, se suicida, adentrando na terra. Daí o nome – Obá Irú – “Rei sepultado”.
É nesta passagem que, Oyá ao saber da morte do amado, implora a Olurun que o transforme em orixá, vencendo à morte. Portanto, os fundamentos de Obá Irù, sempre , terão ligação estreita com as Oyás, especialmente as Igbales. Nesta qualidade, veste-se marrom e branco, ou apenas branco, possuindo também fundamentos com Oxalufã.
Obá Ajaká – Também conhecido como Bayaniyn (o pai me escolheu), Seria o irmão mais velho de Xangô, por ele destronado. Por ser o filho mais velho de Oraniã, o trono de Oyó é dele, por direito. É jovem, veste-se de vermelho e branco, ou marrom e branco.
Airanã – É a personificação do próprio fogo.
Obá Orugã – Filho de Oraniã com Iyemanjá violentou a própria mãe, na ausência do pai. Este é o orixá senhor do sol. Veste-se de vermelho alaranjado.
Agodô – Velho, rege os trovões e os tremores de terra. Veste-se de marrom e branco, ou apenas branco. Tem fundamentos com Oyá, Oxum e Iyemanjá.
Oraniã – O patriarca. Pai de Xangô, foi ele quem fundou a cidade de Oyó. É jovem, guerreiro e muito poderoso. Veste-se de vermelho. Suas ferramentas são douradas, possui fundamentos com Oxalufã e Iemanjá.
Olookè – Velho, pertence a família de Xangô. È o dono das montanhas, veste-se de branco com detalhes marrons… As vezes é confundido com Agodô, mas não é o mesmo. Possui fundamentos com Ewá, o horizonte.
Alufãn – É idêntico a um Airá, veste-se de branco também. Possui fundamentos com Oxalufãn. Suas ferramentas são prateadas.
Obain – Jovem, veste-se de marrom, ligado à Oyá. Também possui fundamentos com Exú.
Oranfé – É o justiceiro, reto e impiedoso. Mora na cidade de Ifé – Terra de Oxalá. Tem fundamentos com Oxaguian – veste-se de vermelho e branco. É Jovem.
Fundamentos de Ayrá – Um Orixá Funfun
Airá era um orixá do fundamento de Xangô. Airá era um dos servos de confiança de Xangô e, seguindo a mitologia, Airá tentou instaurar um atrito entre Oxalá e Xangô, graças a isso, Airá, deve ser tratado de forma diferente de Xangô e seu assentamento deve ficar na casa de Oxalá. Por essa rivalidade com Xangô, não se deve coloca-los juntos, jamais, na mesma casa, nem por os assentamentos de Airá sobre o pilão, pois isso provoca a ira de Xangô. Sua cor é o branco e seus ornamentos são prateados.
Airá é um orixá da família dos raios mas, é relacionado com o vento. Seu nome pode ser traduzido como redemoinho. Redemoinho é o encontro dos ventos, assemelha-se a um furacão. Airá pode ser reverenciado como o encontro dos ventos.
Pouco se sabe sobre o surgimento ou nascimento de Ayrá, por esta razão, muitos atribuem sua filiação à Iyemanjá e Oraniã, assim como Xangô e Aganjú. No Brasil, Airá é visto, erroneamente, como uma qualidade de Xangô. Airá é visto como uma face mais pacífica e amena de Xangô.
Ao contrário de Xangô, Airá não é rei, nem possui o caráter, punitivo e colérico. Este caráter mais ameno, pode ser evidenciado numa das cantigas que diz:
” A chuva de Ayrá apenas limpa e faz barulho como um tambor…”
Airá zela pela paz e pela justiça de forma incondicional, ao contrário de Oxalá que representa a paz, Airá a estabelece e possui uma ação muito mais direta em sua imposição. Airá pode ser enquadrado como um sentinela de Oxalufã, e seria ele, Airá, quem estabelece sua vontade.
Apesar de Airá ser considerado por muitos uma qualidade de Xangô, não é. Airá era, como contam alguns itans, um dos súditos de Xangô, talvez um dos seus escravos, que, a pedido do rei, acompanhou Obatalá até seu reino, após este ter sido liberto do calabouço no qual fora prisioneiro, por engano, de Xangô. Obatalá, fragilizado e sem forças para caminhar, é carregado nas costas, por Airá, durante vários dias. A noite, Airá ascendia um fogueira para aquecer Obatalá e contava-lhe histórias. Ao final dessa trajetória, Obatalá, determinou que Airá o acompanhasse para sempre, dando-lhe status de orixá. Desde então, Airá, tornou-se um orixá Funfun, que veste o branco e não aceita dendê. A fogueira, comemorada por muitos terreiros, no mês de junho de cada ano, é dedicada à Airá, onde ele canta e dança, acompanhado por Oyá, sobre as brasas.
Três caminhos de Airá são mais conhecidos: Igbonã, Intilé e Adjá Osì; sendo o primeiro ligado à Xangô, tendo a fogueira como símbolo.
Ayrá é o verdadeiro Obá Kossô, tendo ganhado esse posto em certa ocasião, quando Xangô o pede para buscar a coroa que estava guardado na casa dos mortos, por Oyá, que temia por seu amado ocupar o trono de Kossô. Para entrar na casa dos mortos, Airá, utiliza-se do Ajerê, que consistia em uma vasilha com bolas de algodão embebidas no dendê, em chamas, que Airá tirava uma a uma, colocando-as na boca, com isso ele conseguia enxergar o Adê Baiyani, que era o nome desta coroa. Ela só podia ser carregada na cabeça, e ela escolhia em que cabeça queria ficar. Airá após levar Adê Baiyani até Xangô, este não consegue suportá-la na sobre sua cabeça, e a devolve a Airá, neste momento o povo de Kossô ovaciona Airá como o novo rei. Cantando:
“Obá Kossô Ayrá ê!
Ayrá Inan!
Obá Kossô Ayrá ê!
Ayrá Inan!”
Títulos de Ayrá
Ayrá Intilé – Veste branco, ligado a Iyemanjá Soba e Oxum Karé. É rebelde, segundo os mitos, foi ele quem provocou a quizila entre Obatalá e Xangô. Por ser um filho rebelde, Oxalá retirou de seu pescoço o colar de contas vermelhas e o transformou com contas alternadas em vermelho e branco, assim toda a terra saberia que Intilé era seu filho.
Os filhos de Intilé são altivos, prepotentes, equilibrados, sábios, serveros, moralistas e galantes.
Ayrá Igbonã – É considerado o Pai do fogo. Ele que carregou Obatalá nas costas, e ascendia a fogueira para aquecê-lo. Seus filhos são de espírito jovem, intolerante, brincalhões, alegres e gostam de dançar. Veste branco.
Ayrá Adja Osì – É o eterno companheiro de Oxaguiã, aprendeu a lutar com ele. Veste o branco. Seus filhos são jovens, batalhadores, guerreiros, persistentes, mas, às vezes, deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, amorosos, alegres, sentimentais, delicados e sensíveis.
Modè ou Mòfé ou Alàmodé – É um título de Ayrá. Considerado o pai das águas quentes, pouco difundido nos terreiros. Vem acompanhado de Oxum Iypondá. Conta o mito que Modé vestiu-se de Oxum para ser confundido durante uma busca para prendê-lo. Sendo assim, geralmente ele é cultuado como uma Iyagbá, seus animais são fêmeas e seus filhos, geralmente, mais delicados e ardilosos, que choram com facilidade para chegarem onde querem.
Lojó – Outro título de Ayrá, faz referencia à chuva acompanhada de vento.
Óbómim/ Bómim/ Ygbómim – Mais um título de Ayrá. É bom, conselheiro, dono da verdade, reina nas águas junto com Oxum, foi ele quem Oxalá transformou em seu primeiro ministro. Não faz nada sem consultar Oxalá.
Curiosidades:
No Brasil, normalmente confundido e cultuado como uma qualidade de Xangô, Ayrá, portanto, deve ser considerado como uma divindade individual. Ayrá não é de origem Iyorubà, seu culto está restrito à região de Savé, em território Jeje, talvez por essa razão seu culto não tenham ganho expressividade, já que nesta região da áfrica os cultos predominantes são voltados à Oxumaré, Obaluayê e Nanã. Não se sabe ao certo sobre sua ascendência, por isso Ayrá é considerado como filho de Iyemanjá e Oraniã, assim como Xangô e Aganjú.
Em contexto Geral, Ayrá é considerado como um orixá Funfun, ou seja, orixá que veste o branco. É considerado uma divindade de caráter passivo, seus fundamentos são relacionados a água e o ar, mas no Brasil, foi atribuído também a esta divindade o elemento fogo, isso devido a sua associação com Xangô. Ayrá possui uma ligação muito mais forte com Oxalá que do que com Xangô e, na verdade, tudo que for oferecido a ele, não deve conter sal, dendê e, jamais, deve ter seus assentamentos junto com Xangô e, também, sobre o pilão. Isso acarreta em quizila entre os dois orixás. Suas comidas votivas, em vez de dendê, é usado banha de ori africana. Come Ebô, Ejá e Quiabo.
Observação: No Brasil, devido aos festejos de São João, criou-se uma tradição de se ascender uma fogueira em homenagem a Xangô e Ayrá. Na realidade esse ato não existe na África. A cerimônia que ocorre na áfrica é o Jerê de Xangô, cerimônia em que o iniciado de Xangô em Oyó (nação), carrega um jarro com inúmeros orifícios, carregado com fogo sobre sua cabeça. Também, neste ato, pode ser acompanhado por Oyá Kará, que também carrega o Jerê na cabeça.
Aganjú não é um Xangô. Mas foi incluso aos cultos do candomblé, QUE É BRASILEIRO, como uma qualidade de Xangô. Ele é o orixá dos vulcões e montanhas e, é um orixá presente na criação da terra. Orixá da terra inculta, Aganjú é o orixá dos vulcões. O senhor das cavernas, o Barqueiro divino.
Aganjú é um doador de força e da saúde. É o transportador da carga (os ombros e as costas pertencem a ele), é o defensor dos menos favorecidos, oprimidos e escravizados. Aganjú fornece acesso ao desconhecido, as profundezas no qual o mundo foi e é criado, (Okum –”A obscuridade”, o reino de Olokum).
Aganjú é o governante que propicia acesso a todas as áreas inexploradas, inacessíveis. Ele, propicia, também, acesso a climas hostis e potencialmente hostis à existência humana, como o deserto, floresta, Ártico, Antártico, a altura das montanhas, grutas, cavernas, abismos, minas e etc. Aganjú pode ser traduzido como: Agan= estéril ; Ju= deserto, ou mais precisamente como local inexplorado, desabitado, desconhecido.
Aganjú se encontra nas profundezas da terra, dos oceanos, nas profundezas do espaço, na energia que ainda não foi explorada, na compreensão da mente e da emoção. Aganjú é o guardião, o canal através do qual, profundidades inexplicáveis das emoções, humanas, são vividas e expressadas. Medos paralisantes são do âmbito de Aganjú, é através dele que aprendemos a suprir nossos medos. Quentes emoções, perigosas, mortal, incontroláveis é Aganjú.
Aganjú tem uma estreita ligação com Oxum. Eles estão ligados de diversos modos: pela emoção, Aganjú é a emoção em sua forma bruta, a profundidade da emoção. Encarnação grosseira, rude. Em quanto Oxum, é a profundidade da emoção e sua forma suave, em sua forma comovente, doce. Amargo e doce. Aganjú explora, supera e vence o rio à cima. Em quanto Oxum, promove o comercio e as relações, pelos mesmos meios. Aganjú supera os obstáculos para ver o que está do outro lado. Oxum, planta a cultura e traz a luz da civilização. Aganjú é o proprietário do rio e o deu para Oxum.
Aganjú é a abertura de novas possibilidades, o inesperado. É, também, todas as riquezas do mundo. Aganjú é o desafio, a luta do impedir, do desejo que leva a superá-los. Aganjú é primordial. O homem do fogo de todos os tipos, o sol e outras estrelas e cometas. Um dos nomes de Aganjú é Iyrawo, que pode ser traduzido como uma estrela. O fogo nas entranhas da terra, geotérmicas, fontes termais. Os vulcões (Oke onine – Montanhas de fogo), são um símbolo importante de Aganjú.
Os mitos descrevem Aganjú como as câmaras de Magma, na crosta interior da terra. De acordo com a criação do mundo, segundo os mitos , Obatalá, o céu, com sua esposa, Oduduwá, a terra; nasceram dois filhos: Aganjú, a terra firme e rochosa, e Iyemanjá, as águas. Da união com Aganjú, Iyemanjá deu a luz a Orungã, o ar, o espaço entre a terra e o céu.
Outro mito o aponta como filho de Sogba, sendo o rei de Ijesà (Ijexá), foi esse orixá que casou com Oxum. No Brasil, Aganjú é, ou Xangô Aganjú, considerado uma qualidade de Xangô, sendo o dono das leis, da escrita, padroeiro dos intelectuais, em contraste com Xangô Agodô ( o mais velho) que é, principalmente, o orixá do equilíbrio e da justiça.
Aganjú, sendo cultuado como qualidade de Xangô, veste-se como o rei, e tem seus fundamentos como o soberano de Oyó, come carneiro. Porém, se cultuado como um orixá independente, Aganjú, possui fundamentos com Ogum, veste-se de Azul com vermelho, come bode castrado, carrega na mão um Oxé e na outra uma espada. Come amalá com gotas de dendê e azeite doce, Ajebô normal. Primeiro se dá comida à Xangô, depois à Ogum.
Aganjú – Mais uma versão
Obá Aganjú
Obá Aganjú, o sexto alafim ou rei de Oyó. Como Xangô não deixou descendentes diretos, já que seus filhos foram todos mortos graças a sua experiência fatídica que ele mesmo promoveu. Aganjú, filho de Ajaká, subiu ao trono de Oyó sem qualquer tipo de disputa.
O reinado dele se mostrou longo e muito próspero. Ele possuía uma habilidade para domesticar animais selvagens e repteis venenosos, alguns dos quais podiam ser vistos rastejando sobre seu corpo. Ele também possuía em seu palácio um leopardo dócil.
Com um bom gosto apurado, embelezou seu palácio acrescentando praças na parte da frente e de traz, com filas de postes de bronze. Ele que deu o costume de decorar o palácio com tapeçarias.
Perto do fim de seu reinado, travou guerra com um homônimo seu: Aganjú Onisambô. Por recusar-lhe a mão de sua filha Iyayun. Nesta guerra, quatro chefes foram capturados, ao saber, Onisambô, concentiu a mão de Iyayun a Aganjú, à força.
Mas seu reinado foi ofuscado por um grande problema familiar que se transformou em tragédia. Lubegò, seu único filho, foi descoberto mantendo relações ilícitas com Iyayun, por conta disso, muitos príncipes e pessoas comuns perderam a vida. Aganju, enfurecido, sentenciou o filho com a pena máxima, a morte. Após, entristecido, Aganjú morreu, não muito tempo depois, mesmo antes do nascimento de um sucessor para o trono.
Mas Iyayun carregava, em seu ventre, um filho de Lubegò, a única esperança de um sucessor direto para o trono de Oyó. Em consequência disso, eram oferecidos no tumulo de Aganjú, oferendas para que ele deixasse que Iyayun pudesse dar a luz ao herdeiro, e, assim, sua dinastia não acabaria. Aganju, então, assim o fez, permitiu que Iyayun concebesse o filho de Lubegò, seu neto. Sendo assim, a criança foi chamada de Kori, e até ter idade para assumir o trono do Pai/Avô, Iyayun governou o reino como um homem.
No Brasil, Aganjú é cultuado como uma qualidade de Xangô, mas, segundo esse mito, ele seria seu sobrinho. E assim, mais um rei se torna Orixá, inspirando as multiformes de Deuses da Justiça.