Doutrina Filosofia Umbanda

Como Cuidar dos Seus Guias Espirituais?

Um cordial sarava meus irmãos de jornada, aqui quem vos fala é o Neófito, com mais um “blábláblá umbandístico”.

Um questionamento muito grande que chega através dos e-mails (As pessoas talvez não gostem de utilizar os “Comentários”) é sobre como cuidar dos guias.

Eu estou revisando um post chamado “Evolução Litúrgica na Espiritualidade” que terá a ver com esse que estou escrevendo agora.

Em meus primórdios dentro da religião, justamente por influência da minha madrinha na ocasião, eu gostava de acender vela para TODOS OS MEUS GUIAS em seus respectivos dias, vivia realizando oferenda, nos dias de trabalho, acendia as velas, tomava os banhos de cada linha e enfim, fazia uma oração para a maioria deles. Sim, desde pequeno sempre fui dedicado, mas como meu conhecimento era limitado, ainda era uma esponja, absorvendo tudo o que me ensinavam, então eu colocava em prática.

Aprendi que para cuidar dos nossos guias espirituais, tinha que dar oferenda, eu comprava sempre as melhores bebidas para que eles pudessem ser bem cuidados, tinha medo de dar algo melhor para um e deixar de dar o melhor para outro e eles ficarem chateados. O mesmo eu aprendi com os Orixás, caso eu cuidasse mais de um do que de outro, haveria quizila e um deles poderia fechar os meus caminhos. Sim, esses foram alguns dos grandes absurdos que comecei em minha caminhada Umbandista, tratava os guias de forma que eles pudessem ter sentimentos terrenos, como raiva, paixão, amor e cólera, tinha receio de desagradar a algum deles e o mesmo não viesse mais em minha matéria trabalhar, não deixava uma data comemorativa passar em branco, mesmo se eu estivesse sem dinheiro, ia acender uma velinha no campo de atuação do Orixá, me recordo um dia de ter ido realizar um trabalho na cachoeira, a água gelada, nenhum irmão quis entrar pra fazer o trabalho, estava um frio desesperador, mas assim eu entrei, tomei o banho na cachoeira para que meu Pai Xangô não ficasse chateado comigo e me achasse um fraco.

Eu era uma criança na época entre meus 16 e 17 anos, tinha em minha madrinha a maior conhecedora da Umbanda, um dom que ela possuía era inegável, ela sabia quem estava chegando ali, espiritualmente falando, ela sabia o nome da entidade, que orixá trazia e tudo mais, e na grande maioria das vezes, coincidia com o nome que vinha em minha cabeça também e na cabeça de outros irmãos.

Sim, meus irmãos, já fui supersticioso ao extremo, quando descia Obaluayie, com medo de dar quizila com o Orixá Xangô do qual eu já trabalhava, eu saía do recinto, corria de cemitério porque dizem que Xangô é vida e ele teme à morte. Como podem perceber, a minha formação umbandista era totalmente fundada em algumas superstições e conhecimentos que depois com o tempo verifiquei que pra mim não serve. Podem servir para alguns médiuns, para alguns guias espirituais, mas quando comecei a ter contato forte com os meus guias espirituais, comecei a senti-los, ouvi-los, comecei a perceber que muita coisa não batia, na época, em meados de 99 para 2000, o ere e o preto-velho estavam muito presente em minha formação filosófica, sem esquecer o Sr. Marabô que me acompanha desde os primórdios do meu desenvolvimento. Com o tempo comecei a me questionar se realmente havia necessidade de tanto luxo gastronômico, de tanta necessidade em cuidar deles se na verdade, eles que vem em Terra para cuidar de nós, checava a viabilidade dessa necessidade exacerbada de cuidar e agradar aos guias, e comecei a chegar a certas conclusões que causou o meu primeiro afastamento da Umbanda, em meados de 2001, quando comecei a questionar o funcionamento de certas casas e de certos fundamentos dos quais sempre fui submerso.

Não vou generalizar porque toda generalização é um erro, se realmente ainda existem guias que possuem toda essa necessidade supracitada, eu não conheci, o problema é que muitas pessoas aprendem as coisas, e como um bebê, aprende e não se questiona, e repassa o conhecimento sem a prática da reflexão e isso vai passando de pai para filho perpetuando o conhecimento infundado para a posteridade.

Portanto, meus irmãos, o guia e o orixá não precisam serem cuidados, eles na verdade não precisam de muita coisa, a não ser sua boa vontade, seu comprometimento com a espiritualidade e com a sua mediunidade propriamente dita, quer cuidar do seu orixá? Guarde seu valoroso dinheirinho para coisas úteis, para agradar a quem precisa como seus filhos, sua família e deixe de gastar esse dinheiro para quem só precisa do seu amor, do seu tempo e de sua dedicação.

Cuidar dos seus guias espirituais não é um ritual certo, uma prática correta, uma receita de bolo, pode ser que existam guias que possuam ainda a vontade de comer alguma coisa, mas isso pode ocorrer em sua matéria, eu tenho uma irmã que afirma de pé junto que os guias sentem saudades das comidas, eu não creio nisso, porque acredito que o Mundo Espiritual é uma grande Semelhança do Mundo Material.

Hoje, aprendi com os meus guias, principalmente com um dos que levam o nome desse blog, que a vela não é para dar luz ao guia, não é para alimentá-lo, é sim uma abertura de portal entre os dois planos através do Elemental fogo, é onde o guia espiritual manipula esse elemento para você, eu aprendi que acender a vela é dar luz aos guias, o que constatei que é um grande engano.

O mesmo princípio podemos aplicar nas oferendas e outros “agrados” que são exigidos por muitos dirigentes para “acalmar” o orixá.

Repito, quer cuidar dos seus orixás e mentores (guias espirituais), acha que cuidando deles, sua incorporação será melhor? Sua comunicação será melhor? Quem precisa se preparar para isso é você e não eles, eles já atuam com esse tipo de trabalho há muito tempo antes do seu nascimento, estão “calejados” desse processo, quem precisa ser preparado é você, e se é você que precisa ser preparado, é você que tem que ser cuidado, bem dirigido, doutrinado, os seus guias espirituais ficarão no suporte, mas a premissa básica, o elemento primordial de um bom trabalho mediúnico é você.

Então antes de pensar em agradá-los e cuidar deles, em minha modesta opinião, pense em você e todos aqueles que dependerão do seu despertar mediúnico para cumprir a proposta da Umbanda: O Amor e a Caridade. A mediunidade é “servitude” meus amigos, é doação, quer deixar seus mentores felizes, te darei uma simples dica: DEDICAÇÃO!

Se alguns guias de vocês, pedem algum agrado, nada incomum, o façam, mas tenham a certeza que nada será mais útil que sua dedicação e aprendizado, nada será mais útil que a expansão de seu conhecimento e transformando-o em prática, tornando um medium sábio, eficiente e preciso nas horas que demandam necessidade, nada será mais importante que o relativo cuidado do que vocês desempenhando papéis importantes dentro dos terreiros, realizando uma comunicação limpa, sem ruídos, sem pressa de ir embora, dedicando aquele tempo e espaço somente a eles e esquecendo do seu ego, de você mesmo e consequentemente de suas mazelas do mundo externo.

Portanto, amados irmãos, a melhor forma de cuidar dos seus guias espirituais não é com pratos caros, com bebidas chiques, com velas aromáticas, mesmo porque nossos amados pretos-velhos, uma linha tão respeitada na Umbanda, pregam a humildade, a simplicidade e a graça da prática do bem, portanto, qualquer ensinamento contraditório a isso, é vaidade, superstição e animismo exacerbado.

Obs: Os posts até meados de março serão semanais, estou em alguns projetos grandes no âmbito profissional e me sobra pouquíssimo tempo durante a semana. Obrigado a quem escreveu perguntando se está tudo bem, obrigado mesmo pelo carinho e preocupação.

Paz Profunda .’.

Neófito da Luz.

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This Post Has 4 Comments

  1. Ótimas instruções meu amigo Neófito.
    Seu blog tem sido grande fonte de conhecimento para mim e mts outros que o visitam.

    Muito obrigado.

  2. Obrigado, adorei a forma que se expressou à respeito de como cuidar dos nossos queridos guias espirituais, pois ainda estou em desenvolvimento e sabe como é há muitas dúvidas…

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