Cangaceiros Umbanda

A Breve Chegada de um Hilário Cangaceiro

Há alguns anos atrás eu postei um artigo referente ao cangaço, teci algumas críticas decorrentes de alguns fatos históricos e alguns trabalhos que presenciei no trabalho dessa mesma linha.
Recentemente recebi a aproximação de um espírito, fala rápida, jeito engraçado e como sempre, ou mentalmente ou por sonhos, perguntei o seu nome e quem era.
Estava vestido com uma roupa toda creme, não chega a ser creme, mas sim um branco relativamente encardido e chapeu de couro virado, comumente utilizando por cangaceiros.
Alto, forte, rosto queimado pelo sol, lenço vermelho no pescoço e um pedaço de pano no braço direito.
O seu nome é Mané Baiano e disse que teve a permissão para trabalhar em minha matéria para a prática do bem e da caridade.

Eu eu de imediato pensei: No último trabalho que participei que era linha de baianos, eu senti o João do Coco, que é um baiano de trabalho meu com 10 anos de idade mais ou menos. Um mentor que tenho muito amor e afinidade porque trabalho com ele desde o meu começo do desenvolvimento. De imediato já na negativa disse: Abrir mão do João do Coco? Nãoooooooooo, que negócio é esse?

Aí eu educadamente perguntei: Meu pai, além do João do Coco, existe o Zé Baiano, como ainda terá espaço para mais um baiano em minha linha?
Ele com aquele humor totalmente nordestino, debochado e relativamente chulo, disse:

– Escute aqui, cabra, e quem lhe disse que será como baiano que vou vir trabucar?
– Como assim meu pai (Como costumo chamar os mentores)?
– Você vai começar a louvar a linha do Cangaço, mais uma linha que você terá em sua corrente de trabalho!
– Sempre fui uma pessoa aberta a novas experiências nos campos espirituais, mas sim, tenho muito preconceito com a linha. E humildemente fiquei perplexo e disse: Meu pai, não sou muito de acordo com o trabalho dessa linha porque não conheci um histórico muito favorável a respeito da vida de vocês.

Durante o sonho, o sonho mudou de uma hora pra outra, eu já estava em uma festa com algumas pessoas que eu gosto e sonhei que dei a comunicação com esse mentor que se chama Mané Baiano. Mais uma possibilidade se abriu na gama de espíritos a quem sirvo, mas ainda com um certo preconceito, assim como linha de malandros e a linha do povo da rua, tenho sim, relativo preconceito com a linha de cangaceiros.

Em um diálogo extremamente educado, extrovertido e enriquecedor, o mesmo me disse que o cangaço existe desde o século XVIII, começou com o intuito de resistir às imposições dos senhores e de toda a corrupção já existente naquela época. Que muitos deles resistiam às volantes, que eram uma força especial para combater o cangaço.
Eu mesmo, procurei mais documentações a respeito do assunto e vi que faziam muitas vezes o papel de Robin Hood. Aquele que roubava dos ricos para fornecer aos pobres.

O mesmo também me advertiu a respeito de um assunto: Você nunca negou a comunicação de um índio, mas você acha que só existiram índios santos? Quantos índios se venderam para o homem branco para lutar contra seus irmãos? Quantos índios faziam o papel de espiões e contribuíram para dizimar uma aldeira inteira? A maldade ou a bondade não está condicionada a uma raça inteira ou no caso, às falanges espirituais. Nem todo escravo foi santo e compreensível, nem todo homem do gado foi honesto ou decente.

Muito pouco se conseguia com Palavras, a força era a arma, seja de fogo ou de corte, muitas vezes somente através dela ocorriam as revoluções.
E eu refletindo, até pensei: Principalmente em culturas subdesenvolvidas como a nossa, é incomperável o renascentismo europeu com nossa guerra de Canudos, por exemplo [risos].

Voltando ao escopo do assunto, nem todos praticavam o mal, se o faziam, era para o bem maior, para livrarem os fracos e oprimidos da miséria e da opressão do governo, criou-se uma milicia de homens corajosos para proteger os ideias da minoria, criando assim, o Cangaço. Cangaço é palavra derivada de canga, peça de madeira simples ou dupla que se coloca na parte posterior do pescoço de bois nos carros de boi.

Obviamente onde tem a ação do homem, é sujeita a corrupção e distorção dos fatos, muitos também fugiram dessa ideologia e começaram a realizar saques para proveito egoísta, de um movimento com o intuito nobre virou uma via de facilitação para bandidos e malfeitores, assim distorcendo toda a ideologia do cangaço e transformando-o em marginalidade.

Refleti sobre muitas histórias indígenas de malfeitores, de escravos assassinos e sim, aprendi a aceitar que mesmo com os erros, a Força de Vontade para o Perdão é poderosa. A dualidade existe em cada milímetro do Universo, cabe a nós vibrar sempre de forma positiva para atrair o que é benéfico a nós e a quem está conosco.

Tive uma breve resumo de como se apresenta: Pernambucano, 52 anos, temperamento divertido, mas às vezes sisudo, postura ereta como um soldado, pelo pouco que presenciei é do tipo paizão, aquele pai divertido, só vou aguardar a sua forma de trabalho em minha matéria. Ele já veio dar o ar da graça na penúltima sexta-feira e já foi solicitado ao mesmo realizar um trabalho. Ainda não verifiquei as vibrações da qual trabalha, que orixá o trouxe em minha linha e com quem trabalha, vamos aguardar o decorrer dos fatos.

E recebi também uma pincelada de como será o trabalho dessa linha, muito parecida com a de baianos e trarão espíritos que de certa forma vivenciaram esse período de Heróis e Bandidos, um pequeno trecho da épica história de nosso povo. E sendo assim, sendo esclarecido pela espiritualidade através desse mentor dotado de exacerbado humor, venci e muito meu preconceito com a linha de trabalho dos cangaceiros e sim, estou de braços abertos para receber os irmãos que vibram nessa linha e caminharmos juntos para a Senda da Caridade.

Como a Umbanda é Universalista e é uma Verdadeira Mãe, recebe em seu seio a força e a história desse povo combatente e de história contraditória.

Sendo assim, já entendi que meu orixá e meu guia chefe já permitiu a chegada desse irmão em minha corrente mediúnica e que comecem os trabalhos para que com o tempo, ele possa me mostrar o quanto estava enganado.

Saravá Mané Baiano
Saravá o Povo do Cangaço
Saravá o Povo da Umbanda
Saravá nosso Deus Pai Todo Poderoso.

Namastê.

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